Feuerbach e a Cerejeira em chamas

Seu pai, sentado à beira de um rio, observava os peixes (…)

“Somos como peixes nadando num mar da História”, diria Marx. 

Quando concebeu uma de suas mais famosas críticas ao Idealismo, o filósofo alemão deixou clara a influência do homem no que concebemos enquanto História. 

Andando pelas ruas de uma grande cidade, estamos cientes de que somos como peixes, nadando por um oceano da História? Será que percebemos que os grandes prédios, as rodovias de concreto e as velhas igrejas foram erguidos pelo trabalho humano durante os séculos? 

Uma das vantagens de andar por aí com o cérebro carregado de ideias marxistas é uma certa transformação na percepção de que a História deixa de ser algo enterrado em livros e museus. A História está viva e perambulando por aí: enquanto andamos pelas metrópoles, esbarramos nela o tempo todo. 

É assim que começo a entender melhor o que Karl Marx quis dizer com a sua doutrina do Materialismo Histórico: o mundo material não é simplesmente o mundo de objetos “naturais”; o mundo material é a natureza transformada pelo esforço humano, é o resultado das atividades produtivas da humanidade, o que necessariamente inclui o trabalho de gerações passadas. 

É com base nessa concepção materialista que Marx elabora uma de suas principais críticas à Feuerbach, filósofo que muito influenciou o pensamento do então jovem alemão. Em um de seus enxertes, Marx diz que Feuerbach, ao observar uma cerejeira, acreditava que era ela um objeto sentiente do reino natural, mas falhava em compreender que a cerejeira fora implementada à Europa pelo comércio há alguns séculos, e somente pela virtude desse fato histórico que os sentidos são dados à ele.

O que Marx quis dizer à Feuerbach é que tudo o que vemos hoje é fruto dos movimentos humanos. Da materialidade. Da intervenção humana.

(…) Hoje, sentado à beira de uma grande área descampada, imagina o que seriam os tais peixes que via seu pai.

Tudo começou com a negação da verdade. Com as apostas nas abstrações.

Não vê cerejeiras. Não vê Amazônia. Não vê História.

Só vê um futuro em chamas. Chamas que consumiram a cerejeira, os livros, o material e o imaterial.

Existem chamas que queimam até mesmo a roda da História. 

Hoje tem um terço da idade de seu pai, mas ainda assim já pensa no leito de morte.

Quantos anos tem?

17.

EHFJXCYGDLMXVNXU2W2AUQO6I4.jpg

Deixe um comentário