Democracia em Vertigem: a viagem de Santo Cristo ao Planalto

Dimensionar as narrativas que compuseram o cenário anterior ao golpe de Abril de 2016 é realizar uma tarefa árdua, dolorosa e por vezes pecaminosa. Diria o presidente Lula que “se Jesus viesse ao Brasil, teria de conciliar com Judas”. De fato, teria. Mas, pior do que negociar com Judas é atestar o surgimento de falsos cristãos sentando nas cadeiras de ofício após sua morte. É por isso que tratar dessa narrativa é de fato uma tarefa pecaminosa. As forças ocultas suscitadas por Aécio Neves naquele ano, tomariam proporções que nem mesmo o pior dos tucanos esperava.  

 

Meu objetivo aqui é tratar de uma narrativa conhecida do nosso cenário do golpe, Brasília. Marcada pelas canções de Renato Russo e da Legião Urbana, a ligação da Capital da Esperança com o golpe corre ao lado da conhecida história de João de Santo Cristo. Assim, com um golpe baixo, a nossa democracia entrou num ônibus no Planalto Central a convite de um boiadeiro. As alianças firmadas com a turma dos esquemas, do grande acordo nacional, com o supremo, são um dos motivos que levaram à criação desse blog (bem como as brilhantes análises em crônicas do professor Felipe Pena). O que eu não esperava é que seus resquícios fundassem a nova sede do falso moralismo na capital do País.

 

E assim como Jesus, como Santo Cristo e como nossos anos e anos de manchas de sangue, o Judas que nos trai é camaleão. Nesses 519 anos marcados pelas mais duras e sanguinárias edificações, diria o presidente Lula que em todas elas, não vencemos a fome. Não a vencemos com o golpe da República, com a Revolução de 30, com 64, nem mesmo com a Constituição de 88. Lula não estava errado em sua análise, pelo contrário. O que não dimensionou é o combustível maior dos estigmas que nos cercam, e que se demonstrou claro e evidente nas amarras do golpe: aqui, nos apropriamos das Oligarquias, sem admitir que jamais abandonamos esse modelo. Soubesse Dilma disso, não teria sofrido o golpe? Soubesse Santo Cristo disso, não teria o homem que atirava pelas costas o atingido? Sim, o teriam. Mas nossas feridas não sangrariam o sangue das armas e do ódio.

 

Nossas respostas ao autoritarismo das Oligarquias são sempre acompanhadas de figuras que preparam o terreno para novos escândalos e tiranos. O juíz de faz de conta, ao prender Sebastião, trouxe José e foi pego trocando cartas com Caminha. Aqui continuamos a seguir esse instinto dissonante, insistimos em usar remos em barco a motor. E seguimos colhendo os frutos dos golpes. As serpentes que nos farão mordê-los são cada vez menos serpentes e mais Sebastião. Mais homem. Mais narrativa falaciosa. Mais falso messianismo.

 

Mas afinal, todos sabemos que Juscelino não conseguiu o que queria quando veio pra Brasília pro diabo ter. Nem ele, nem Santo Cristo, nem Judas, nem a serpente, nem o ovo, nem Sebastião, Severino, nem José e nem Drummond.

 

Mas, aprendemos que a verdade é filha do tempo, e não da autoridade.

 

É?

 

E agora, Dilma, quem é autoridade?

 

E agora, Moro, quem é autoridade?

 

E agora, Jair, quem é autoridade?

 

A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou

 

E agora, José? Autoridade você não é.

 

Resultado de imagem para e agora josé

 

Deixe um comentário